sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Aos românticos

Longe de mim
A profanação de seu sorriso
n’alma dos desavisados.
Mesmo assim
caio nos seus feitiços,
hipnotizado por teus olhos encantados

Ó vida! Que queres?
A morte pode vir me levar.
Dentro dos meus sonhos hereges
a divindade de tua presença é o mar

Onda que bate em desatino
leva para o infinito o inconsolado,
este moço afeminado,
que mela suas ceroulas.

Ó lágrima! Ó mel!
Choro pelas cebolas.
Os últimos românticos,
presenteio com cenouras.


Laura Saldanha

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A revolução dos desnudos

Aceitamos as máscaras que botam em nossos rostos, somos: inteligentes, engraçados, superficiais,
frios, fofos, bons, maus, cafajestes. Nós vestimos essa máscara como se ela fosse a verdade. E ela não é. Quando uma característica sua é usada para esconder todas as outras, ela é falsa. Ninguém tem só um lado. Somos profundos.
Mas nos acomodamos à essa mentira, fazemos dela nosso eu. Buscamos essa característica (boa ou ruim) como ideal. Assumimos a máscara e, pior, acreditamos nela. A máscara é nossa casca, nossa armadura, nos escondemos atrás dela todos os dias quando acordamos para enfrentar o mundo.
Mas a máscara pesa e nós esquecemos esse peso. A máscara pesa todos os sentimentos que esquecemos, todas as qualidades de dissimulamos, todos os defeitos que escondemos. A máscara também cobra seu preço.
O mundo não é fácil. Ele é complexo, imprevisível. Com nossa armadura enfrentamos o mundo, confiantes. Fazemos que o mundo é brincadeira. Fazemos dois mundos, o de dentro e o de fora. O mundo dentro da armadura é considerado muito importante. E o mundo de externo? Esse acontece, passa, mas não pode interferir no mundo-núcleo -a não ser que ele permita. O mundo de dentro é frágil, se protege do mundo externo, cria obstáculos, fortalece a casca, repele tudo: vento, sol e chuva. Tempestades no mundo de fora sopram uma leve brisa no mundo de dentro. Raios de sol e a luz das estrelas são refletidos e não chegam a crosta.
Nos acomodamos dentro de nossa casca e só saímos de lá quando sentimos muita segurança. São pessoas e lugares que nos tiram do nosso mundinho particular, por alguns instantes, e mostram como é maravilhoso o mundo de fora. Mostram-nos as cores da vida.
Muitas vezes, e isso sempre vai acontecer, quando estamos fora de nossa armadura, somos atingidos por uma ventania e elevamos no ar. Voamos para muito longe, passamos por temporais, nevadas e queimaduras de sol, e, quando voltamos para ao ponto zero, fugimos e nos trancamos em nossa casca. Não queremos sair de lá nunca mais. Fomos muito maltratados pelo mundo externo, o seu brilho pode ser interpretado como isca: isca para se perder no vendaval e nunca mais voltar.
Ficamos duros. E esse tempo que passamos confinados em nossa casca é de extrema importância: refletimos. Olhamos para nós mesmo, e não vemos saídas que não acabem em nós mesmos. Descobrimos quem realmente somos. É um labirinto sem saída. Algumas, tristes pupas, nunca mais saem da casca, não conseguem abandoná-la e seu espírito morre. Viram só um recipiente vazio. Mas outros, aqueles que souberam fazer uma reflexão e julgamento justos, têm a graça de provar a METAMORFOSE. Fazem da casca casulo e transformam-se. Caem no mundo.
Caem no mundo. Descobrem o mundo. Viram crianças novamente. Descobrem que ter sensibilidade não é ser fraco. Poder cair no mundo, aceitar todas suas modificações de peito aberto, é ser forte. Muito forte. Não se proteger atrás de armaduras e sim abraçar o mundo aceitando todos os seus espinhos, todas as suas inconstantes. Permitir-se. Fazer daquele que chamava-mos a pouco de ‘mundo-externo’ : ‘mundo-nosso’.
E mudar sempre. Aceitar a mudança. Por que somos assim: podemos ser atingidos pelo vento e levados para lugares distantes. Os tolos e fracos se trancam dentro de si mesmo e ficam a deriva, boiando no mundo exterior; e os sensíveis e fortes aceitam o mundo, fazem dele, todo, sua morada: sentem o vento como uma oportunidade de levantar voo.